Os
corredores freqüentemente escutam sempre as mesmas perguntas de quem não
participa de corridas. Nesse artigo, reúno três perguntas que todo corredor
odeia escutar.
Quantos quilômetros tinha a maratona que você correu?
Quando era criança, e via os participantes da Maratona do Rio de Janeiro passavando em frente de casa, admirava o esforço daqueles corredores para completar os 42 km de corrida, mais precisamente os 42 km 195 metros. Bem mais tarde, aos 27 anos, tomei coragem, treinei e consegui realizar o sonho de completar a distância desafiadora da maratona.
Para minha surpresa, após completar minha primeira maratona, comecei a escutar a pergunta “quantos quilômetros tinha a maratona que você correu?”. Como assim quantos quilômetros? Parece óbvio que, se completei a maratona, foram 42 km...
Mais tarde percebi como era comum essa pergunta e a surpresa acabou virando indignação. Para a maioria das pessoas “maratona” é sinônimo de “corrida”, desvalorizando a esforço e dedicação necessários para superar a distância. Não dá para comparar o desgaste físico e psicológico de maratona com uma corrida de 5
ou 10 km. Mais tarde, com a popularização da meia-maratona do Rio de Janeiro, as pessoas começaram a chamar meia-maratona de maratona. O que também menospreza o que é uma maratona. Apesar da distância ser o dobro, o desgaste, esforço, dor, enfim tudo, é bem mais que o dobro. É apenas depois dos 30 e poucos km que o “bicho pega” na maratona e o corredor pode sentir como se estivesse carregando o mundo nas costas. Quantos quilômetros tinha a maratona eu
corri? Minhas maratonas sempre tiveram 42 km!
Você já correu “maratona” de São Silvestre?
Para começar a São Silvestre não é uma maratona, e sim uma corrida de 15 km. As pessoas em geral conhecem apenas as corridas televisionadas, e a São Silvestre é a mais famosa. Para muitos, os corredores devem correr a São Silvestre, pois acreditam que é a melhor corrida do Brasil. Não, nunca corri a São Silvestre. Afirmo também que não é a “melhor corrida do
Brasil", muito pelo contrário. As corridas televisionadas são planejadas para a TV, não para os corredores. O horário da largada é o melhor para a TV, mesmo que os corredores derretam no calor. A largada é em lugar estreito, para dar maior sensação de multidão na TV. As mulheres correrem a São Silvestre no meio da tarde
em pleno verão é no mínimo irresponsável. Tive uma amiga que participou da São Silvestre e foi hospitalizada em coma devido ao calor no horário da prova. Os corredores são amassados na largada da São Silvestre (e na meia-maratona do Rio também), mas isso fica bonito em uma tomada mais longe na TV. Há corridas muito melhores, feitas para corredores, como as maratonas de Porto Alegre e Santa Catarina, que quase ninguém conhece. Se eu já corri a São Silvestre? Nunca e nem quero correr.
Você não ganhou? Qual foi a sua colocação?
Uma das coisas bonitas da corrida é que você pode competir contra si mesmo, e sair vitorioso ao superar metas. A esmagadora maioria dos corredores estabelece como metas completar a prova em um determinado tempo ou algumas vezes, se for uma distância desafiadora como uma maratona ou ultra, apenas completar a corrida. Um número relativamente pequeno de corredores tem como meta obter uma colocação em sua faixa etária. Essa é outra coisa bonita nas corridas, os corredores são divididos em faixas etárias e além da colocação geral também recebem colocação no seu grupo de idade. Além desses, a minoria da minoria, apenas a elite, entra numa corrida de grande porte para ganhar.
Assim, o corredor pode ficar muito feliz ao superar o seu melhor tempo em uma corrida e
sentir-se vencedor, então recebe a pergunta “e ai, ganhou? Não??? Chegou em que colocação?”. Ao responder sua colocação o corredor, que foi vitorioso ao conseguir alcançar sua meta, é visto com um olhar de surpresa e pena como se fosse um derrotado.
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