Fibras Musculares
A interferência do treinamento sobre as características das fibras musculares

Os músculos representam valores médios em torno de 40% sobre o peso corporal total dos indivíduos adultos. Atletas treinados em esportes de força possuem comumente um percentual de massa muscular mais elevado, opostamente indivíduos sedentários possuem menor percentual de massa magra.

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Na constituição dos músculos, cada músculo como um todo é recoberto pelo Epimísio que é uma camada envolvente de tecido conjuntivo. O músculo é subdividido em pequenos feixes de fibras ou células musculares envolvidos pelo Perimísio. O Endomísio o qual é o invólucro de cada fibra (célula muscular), constitui a terceira subdivisão de todo o músculo.

Apenas uma única fibra muscular pode ser contida por até 80% de miofibrilas. Cada fibra muscular pode conter dezenas e até centenas de milhares de miofibrilas. As miofibrilas são constituídas por miofilamentos de dois tipos: miofilamentos grossos ou Miosina, que por sua vez é subdividida em meromiosina leve e meromiosina pesada, e os miofilamentos finos são denominados Actina.

As fibras musculares podem ser classificadas por meio de sua propriedade contráctil e por sua coloração: fibras lentas, fibras vermelhas ou do tipo I (veja quadro 01 e 02) e fibras de contração rápida, branca ou do tipo II (veja quadro 01 e 02).

Quadro 01 :

Nomenclatura variada dos tipos de fibras

Característica

Tipo I

Resistência

Vermelhas

Tônicas

Lentas

Slow twitch fibers (ST)

Tipo II

Força e velocidade

Brancas

Fásicas

Rápidas

Tipo II A – rápida oxidativa

Tipo IIB – rápida glicolítica

Fast twitch fibers (FT)

Quadro 02:

Tipos de fibras musculares

Tipo I (Resistência)

Subtipo

I C

Tipo II (Força e velocidade)

Subtipos

II A*

II B

II C

II AB

II AC

Chiesa;1999,Fleck & Kraemer;1999, Bacurau;2000.

Os subtipos de fibras musculares IIA*, podem ser classificados como fibras intermediárias; Ästrand; 1980, pág 43 Howley & Powers; 2000, pág 137, porque possuem características mistas entre as fibras do Tipo I (resistência) e do Tipo II (força), veja quadro 03.

Quadro 03 :

Características das fibras musculares

Característica

Tipo I (contração lenta) (resistência)

Tipo IIA (contração rápida) (glicolítica oxidativa) (intermediária)

Tipo IIB (contração rápida) (glicolítica) (força)

Velocidade de contração

Lenta

Rápida

Rápida

Capacidade anaeróbia

Baixa

Moderada

Alta

Capacidade oxidativa

Alta

Moderada

Baixa

Estoque de triacilgliceróis

Alto

Moderado

Baixo

Estoque de glicogênio

Moderado

Moderado

Alto

Volume de mitocôndrias

Grande

Moderado

Pequeno

Enzimas oxidativas

Alta

Moderada

Baixa

Enzimas glicolíticas

Baixa

Moderada

Alta

Capilaridade

Elevada

Moderada

Reduzida

Adaptado Ästrand; 1980, Saltin e cols in Bacurau;2000, Howley & Powers; 2000. Platonov; 2003.

O treinamento de força provoca transformação dentro de um determinado subtipo de fibra muscular sendo uma adaptação comum em função do tipo e também da duração do treinamento. Provavelmente a transformação das fibras musculares dá-se apenas de forma gradual dentre os subtipos de fibras e não diretamente de um tipo para outro. "Uma fibra do Tipo IIb não pode ser diretamente convertida em Tipo I , devendo antes ser convertida numa fibra Tipo IIa". Howley & Powers; 2000.

Segundo Pette; 1980, Rayment; 1993, Staron; 1989 in Howley & Powers; 1997; 2000, o treinamento de força e o treinamento de endurance acarretam a conversão das fibras rápidas em fibras mais lentas, ou seja quando o músculo é submetido a treinamento há uma transformação das fibras do Tipo IIb para o Tipo IIa, esta transformação é considerada uma transformação do tipo fibras rápidas para fibras lentas, veja quadro 04.

Quadro 04 :

Treinamento com exercícios de força

?

Seta para a esquerda

Seta para a esquerda

I

IC

IIC

IIAC

IIA

IIAb

IIAB

IIaB

IIB

É necessário mais estresse oxidativo no treinamento de resistência aeróbia.

*

 

 

 

**

Fleck & Kraemer;1999.

*Ponto final para o treinamento de força pesado.

*O levantamento de uma carga externa ativa um processo de transformação das fibras Tipo IIB em Tipo IIA.

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Segundo Kraemer;1999, após o treinamento destinado ao desenvolvimento da força, verifica-se uma redução drástica das fibras do Tipo IIB.

A transformação da fibras do Tipo IIB para o Tipo IIA ou seja, dentro de um determinado subtipo de fibra muscular é uma adaptação comum no treinamento de força. (G.R. Adams et al; 1993, Staron et al; 1991,1994, Kraemer et al; 1995..

O treinamento de força provoca modificações hipertróficas positivas nas fibras do Tipo I e do Tipo II, sendo que as fibras de características de contração rápida são mais beneficiadas. Fleck & Kraemer; 1988, Tesch; 1988.

As fibras brancas hipertrofiam-se sob a aplicação de treinos de velocidade e de força na presença de estímulos com grande sobrecarga, e reduzido número de repetições. A hipertrofia das fibras lentas, dá-se sob estímulo caracterizado com baixa sobrecarga e um alto volume de repetições, veja quadro 05.

Quadro 05 :

Caracteres

Grau de hipertrofia

1 a 5 repetições : maior síntese de proteína contrátil (fibra IIB),

níve3 (bom)

6 a 12 repetições : maior síntese de proteína contrátil + hipertrofia sarcoplasmática (fibras IIA e IIB)

nível 4 (ótimo)

12 a 20 repetições : maior hipertrofia sarcoplasmática + síntese de proteína contrátil (fibra IIC).

nível 2 (regular)

20 repetições : hipertrofia sarcoplasmática (fibra Tipo I).

Nível 1 (baixo)

Hatfield,1985 in Rodrigues; 1990, 1992.

A proporção das fibras musculares pode variar sensivelmente de um grupamento muscular para outro, de individuo para individuo assim como, nas categorias diferenciadas de atletas de elite, em função com a predominância da força, da velocidade ou da resistência no esporte praticado, veja quadro 06 e 07.

Quadro 06 : 

Ordem

Músculos

Fibras lentas
(ordem decrescente)

Seta pra cima

1

Sóleo

2

Adutor polegar

3

Tibial anterior

4

Bíceps femoral

5

Fíbular longo

6

Deltóide

7

Gastrocnêmio

8

Bíceps braquial

9

Quadríceps

10

Esternocleidomastóideo

11

Tríceps braquial

12

Orbicular dos olhos

 

Fibras rápidas
(ordem crescente)

Johnson e cols 1973.

"O vasto lateral, reto femoral, gastrocnêmio, deltóide e bíceps braquial, contém aproximadamente 50% de fibras de contração rápida. O sóleo possui 75% a 90% de fibras de contração lenta do que os outros músculos da perna. O tríceps braquial possui mais de 60% a 80% de fibras de contração rápida do que os outros músculos do braço".

Saltin e cols; 1977 in Hay & Reid; 1982.

Percentual das fibras musculares de contração rápida e lenta em atletas. (Músculo quadríceps)

Quadro 07 :

Categoria atlética

% de fibras rápidas

% fibras vermelhas

Corredores de maratona

18

82

Nadadores

26

74

Atleta masculino nível médio

55

45

Halterofilistas

55

45

*Corredores de velocidade e Saltadores

63

37

Guyton;1985.

"Pesquisas sugerem que não há diferença entre os tipos de fibras musculares entre homens e mulheres". Saltin e cols; 1977 in Hay & Reid; 1982.

Entre as idades de 12 a 14 anos encontramos 14% de fibras com características intermediárias em rapazes e 10% em moças. Sabemos que as fibras intermediárias podem ser transformadas em fibras lentas ou rápidas, de acordo com o tipo de treinamento. Possivelmente nesta faixa etária encontra-se o momento para a definição das características atléticas futuras de velocidade, de força ou de endurance.

Visando recrutar as fibras intermediárias para o grupo das fibras de contração rápida durante a passagem dos 12 a 14 anos de idade, o treinamento deve ser dirigido de forma a beneficiar a força e a velocidade durante este período. A transformação destas fibras musculares de características intermediárias num momento posterior, deixará de ser possível; Bauersfeld/Voss; 1992 in Weineck;1999, constituindo-se desta forma na passagem dos 12 aos 14 anos de idade, situa-se o momento exato e mais propício ao treinamento de base da força de velocidade.

Os treinamentos de endurance e de outras qualidades físicas não devem ser negligenciados, assim como, a aprendizagem e o aperfeiçoamento das características técnicas esportivas. Apenas neste período dá-se ênfase aos treinos específicos de velocidade e força geral de forma mais elaborada e sob controle pleno.

O alongamento das estruturas musculares principalmente dos posteriores do tronco, o fortalecimento dos músculos do abdômen (reto, oblíquos), coluna vertebral (eretores) necessitam de treinos rotineiros.

O treinamento árduo e prematuro de velocidade na infância pode ser prejudicial posteriormente para o desenvolvimento da velocidade e da força rápida; Weineck; 1999.

Aplicar treinamentos visando apenas garantir modificações primárias sobre os tipos de fibras musculares é um meio e não um fim, relacionado ao sucesso desportivo. O sucesso desportivo constitui-se da reunião e do equilíbrio de fatores psicológicos, neurológicos, bioquímicos, cardíacos, circulatórios, biomecânicos, socioeconômicos, ambientais dentre outros.

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Créditos:
Texto copyright © por Luiz Carlos Chiesa
Profissional de Educação Física - Registro CREF1/ES- N.º 000069
Autor dos livros:
Musculação: uma proposta de trabalho e desenvolvimento humano, Espírito Santo: Editora da U.F.E.S, 1999.
Musculação: Aplicações práticas – Técnicas de uso das formas e métodos de treinamento, Rio de Janeiro: editora Shape, 2002.

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