Dizem que “Deus é brasileiro” e não há como negar essa paixão desenfreada pelo futebol. Pudera! O Brasil é um país que na Copa do Mundo se dá ao luxo de ter sempre ótimos jogadores no banco de reservas. Ou seja, dois times e mais os que ficam de fora.
Os teóricos tentam explicar o porquê disso tudo num país com tantos problemas e insucessos sociais. Há quem tente justificar que o talento nasceu da miscigenação das raças de nossas origens étnicas: A estrutura muscular e força do negro mais a habilidade, a agilidade e a velocidade do índio que usavam para caçar, pescar ou fugir.
Talvez seja justamente o fracasso social e a pobreza a justificativa mais aceita. Em qualquer pedaço de chão, seja no morro, na baixada, nos campos, nas praças ou na praia tem sempre crianças, adolescentes e adultos jogando bola, de meia, plástico ou couro velho. De tênis, chuteira, descalço e até de chinelo de dedo o brasileiro “bate uma peladinha”. Escola sem campinho de futebol não é escola e o futebol acaba sendo o esporte mais praticado por aqui. Nasce sem regras nas “rodas de bobinho”, “peladas”, os “rachas”, “controle” e tudo que a criança inventa com a bola. A criatividade impera nessas brincadeiras e dali nasce os “Ronaldos” e “Robinhos” da vida.
Vieram as fábricas, os prédios e nos centros urbanos os pedaços de chão para jogar bola foram desaparecendo. Algumas vilas e ruas sem saída ainda resistiam com as peladinhas de todo dia mesmo com algumas vidraças quebradas, visinho reclamando e tudo o mais.
A resistência começou a se traduzir nas escolinhas de futebol quase sempre dirigidas ou comandadas por ex-atletas a ensinar a arte de jogar bola. Aí começaram a profissionalizar com teorias e pedagogias aprendidas nas faculdades. Passaram a treinar com rigor técnico explorando as chamadas valências físicas da força, velocidade, coordenação motora, agilidade e tantas outras mais. Entretanto, ainda hoje nota-se uma grande diferença de quem aprende a jogar bola na rua voltando para casa todo sujo para quem aprende numa escolinha cheia de regras e teorias. Na rua todo mundo ensina todo mundo. Criança ensina criança, o mais velho dá “cascudo” quando o menino faz besteira e assim vai com liberdade e criatividade. Ou aprende, ou cai fora. Nas escolinhas nem sempre é assim. Tem o pai que sonha com o seu filhinho sendo um craque. Paga, compra os melhores uniformes e a criança volta pra casa depois de um treino com o uniforme limpinho.
Embora o mundo inteiro tenha aprendido e aprimorado o futebol, o jeito moleque e criativo ainda é do brasileiro cujo primeiro presente é a bola e a camisa do clube que o pai torce. O futebol acabou sendo uma grande fonte de renda para os patrocinadores, investidores, fabricantes de material esportivo e os cartolas. Os jogadores passaram a ficar a mercê dos clubes e dessa máquina muitas vezes escravagista. Os campeonatos de futebol passaram a ser direcionados e muitas vezes manipulados de acordo com os interesses financeiros ou políticos. Quantas vezes já vimos governos usarem o esporte para divulgar seus regimes? Nações usarem a Copa do Mundo para demonstrar soberania? Quem paga quer ganhar. De certa forma, respeitando as devidas proporções, até mesmo lá na peladinha de rua isso mais ou menos acontece. O “dono da bola” tem que jogar mesmo sendo um “perna de pau”.
O nosso coração verde amarelo normalmente é movido pela emoção e gostaríamos sempre de ver nosso time no mais alto degrau do pódio. Entretanto, a razão nem sempre é favorável, pois existem as correntes dos interesses comerciais Internacionais ou, como diria Jânio Quadro, “forças ocultas”. Do ponto de vista de faturamento da Copa do Mundo o Brasil e a força européia não podem ficar de fora, mas também não pode ganhar todas. É assim desde os campeonatos regionais até os Internacionais.
Não resta dúvida que o Brasil tem os melhores jogadores do mundo, mas só isso não basta para ser hexacampeão. Seguindo esse raciocínio dos interesses políticos para ganhar a Copa do Mundo um país tem que estar alinhado com esses interesses. Na França 1998, o melhor da Copa foi derrotado para o “dono da bola” deixando essa situação mal resolvida e o Brasil ganhou na Coréia 2002 como se tivesse havido um acordo do tipo: “eu ganho essa e você a próxima”. Na Alemanha os interesses políticos também não eram favoráveis ao Brasil, pois sendo hexacampeão ficaria muito distante dos outros. Agora a Itália tem quatro títulos e quer o quinto para se igualar ao Brasil, a Alemanha três, Argentina e Uruguai dois e por fim Inglaterra e França apenas um. Prefiro não acreditar nesses interesses políticos sujos, pois se o Brasil ganhar o sexto título fica com a obrigação de ganhar o sétimo em casa em 2014. Tem tudo para ganhar e se distanciar de todo mundo figurando entre as três favoritas: Brasil, Espanha e a imprensa Internacional já “força uma barra” para a Argentina que se classificou aos “trancos e barrancos”. Precisa de mais um título sabendo que dificilmente ganha em 2014 no Brasil que será o dono da bola.

Cartas para essa coluna:
Luiz Carlos de Moraes CREF/1 RJ 3529 - E-mail: lcmoraes@compuland.com.br
Para Refletir: Todo ser humano pensa e pode decidir pela razão, pela emoção ou os dois. Um percentual de razão pode contribuir para que a decepção não se transforme em tragédia. (Moraes 2010).
Sobre a Ética: O ser humano fiel aos seus princípios pode ser feliz duas vezes. Uma durante a sua vida produtiva se relacionando com as pessoas, outra quando envelhece relembrando o passado não tendo do que se arrepender. (Moraes 2010).
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