Estudos realizados no Centro de Óptica e Fotônica do Instituto de Física da USP de São Carlos (IFSC) mostram a viabilidade de uso da espectroscopia de fluorescência na detecção do câncer epidemóide, que atinge regiões como a língua e os lábios. O procedimento poderá significar mais confiabilidade e rapidez nos diagnósticos. A pesquisas foram realizadas em hamsters e, ainda este ano, poderão ser feitos testes em humanos.
Atualmente, o diagnóstico deste tipo de câncer é feito por meio da retirada de uma amostra do tecido lesado que é analisada por um patologista. "Este profissional é quem vai diagnosticar se a lesão é maligna ou benigna", aponta a dentista Cristina Kurachi, que em sua pesquisa de doutorado avaliou a eficiência da técnica no tratamento do câncer na língua induzido quimicamente nos animais.
"Sabemos que os resultados dos patologistas têm altas porcentagens de acerto, mas nossos experimentos mostram que a espectroscopia de fluorescência é mais segura, diminuindo o grau de subjetividade da análise, e pode fornecer resultados em tempo real", diz.
Em seu estudo, a pesquisadora utilizou uma sonda composta por um conjunto de fibras óticas que conduzem a luz laser e coletam a fluorescência do tecido. "A sonda de investigação com cerca de 2 milímetros (mm) de diâmetro é composta por uma fibra central, que leva o laser, e outras seis ao redor que coletam a fluorescência emitida pelo tecido. Ao toque da sonda no tecido já temos a resposta e as informações que podem nos trazer indícios se o tecido é neoplásico ou normal", explica Cristina.
Segundo a pesquisadora, a energia entregue provoca a excitação das biomoléculas do tecido lesado. "Após a excitação, ao retornarem ao estado mais estável (fundamental), as biomoléculas liberam energia, também na forma de luz, permitindo que seja feita a caracterização da lesão", descreve. A fluorescência coletada é então enviada a um espectrômetro que analisa a intensidade e os comprimentos de onda da luz coletada.
Os pesquisadores determinaram identidades espectrais do carcinoma para possibilitar a discriminação entre normal e neoplásico. "A resposta dependerá dos compostos bioquímicos do tecido e como eles estão distribuídos", conta Cristina. "Uma neoplasia apresentará então uma fluorescência diferente do tecido normal."
Aplicações
Cristina acredita que, em breve, a técnica estará disponível para ser utilizada clinicamente. "Podemos imaginar um aparelho que, ao toque da fibra na região lesionada, nos forneça, em tempo real, informações adicionais sobre o tipo de lesão, auxiliando o clínico no diagnóstico", diz.
Ela conta que essa técnica já vem sendo aplicada em pacientes com lesões no fígado, em colaboração com a Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. A tese de Cristina intitulada Espectroscopia de fluorescência na detecção de lesões quimicamente induzida por agentes carcinogênico na borda lateral da língua, recebeu duas premiações na área de diagnóstico, em 2003 e 2004, durante reuniões da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica. O estudo foi feito em colaboração com a Faculdade de Odontologia da UNESP de São José dos Campos e foi orientado pelo professor Vanderlei Salvador Bagnato.
Fonte: Antonio Carlos Quinto, Agencia USP, 20/06/2005.
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